terça-feira, 26 de maio de 2015

IV – ignição

Se ainda não leu, volte para a primeira parte :) 
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 “O fogo se empenha em eliminar com maestria e covardia o que lhe é ordenado.”

“Pólvora não existe para espalhar o amor. Ela existe para levar um dos amantes e livrar o outro. A pólvora sabe que apenas pessoas vivas podem a sofrer.”

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E do calor e da fumaça tímida vinda do amor e do toque entre suas diferenças, um curto flash prateado ecoou na sala, como uma fotografia, eternizando aquelas sensações na parte de dentro das pálpebras dos dois. Dentre todos os outros, aquele instante foi o que mais mereceu ser chamado de início.

Amável e suavemente, a partir do segundo exatamente após o flash vindo da mão direita dele, seu corpo tornaria em um grande pavio vivo, pois acabava de começar algo impossível de se parar: Fogo determinado.

E o fogo fez seu trabalho, flamejando num brilho instável, ofuscado e dispersado pela própria fumaça. Cada única coisa na pobre sala de visitas respondia ao massivo calor da queima: sofás, paredes, janelas; que muito embora inanimados, se incomodavam com o brilho, ao serem forçados pela inércia a assistir um espantalho ambulante, impregnado em pólvora por entre cada folha de palha que dava forma à sua falsa silhueta humana, brilhar forte como não diferente de pólvora negra a queimar.

Subindo pelo braço e gradualmente o envolvendo, ele estava à mercê da chama que se ocupava apenas em decidir para onde seguir. Ao arder, nem ao menos sobravam cinzas. Como sua esperança, ele evaporava de maneira irreversível, e cada grão de pólvora tinha em mente garantir o cumprimento desse detalhe.
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