segunda-feira, 23 de maio de 2011

Você me faz querer ser uma pessoa melhor

Esse texto foi um divisor de águas na minha filosofia de escrita. Passei a me ater à simplicidade a todo custo.

Ele verbaliza uma parte do período introspectivo em que tentei entender tudo o que pudesse ser clichê. Tento levar isso comigo até hoje.

O título, extremamente clichê, contrasta com o corpo do texto, que o disseca e o contradiz.

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 Você me faz querer ser uma pessoa melhor

          Não me lembro dos nomes, mas sei que já ouvi esses dizeres em dúzias de romances diferentes. Eu acreditava ser só mais um clichê para o qual alguns diretores gostavam de apelar, visto que era muito freqüente.

          Nunca me esqueci do aparente poder que essa citação tinha. Ela fazia brilhar os olhos de quem a ouvia. Mas eu pensava que esse efeito fosse exclusivo do cinema. Com exceção dos homens das cavernas, nós temos uma natural dificuldade de aceitar que um filme represente a realidade. Quando o roteirista não é dos melhores, a coisa fica pior. O filme passa uma imagem de estar ainda mais longe. E nós, involuntariamente, os damos a mesma credibilidade que costumamos conferir a opinião de uma criança. Entendemos que queriam apenas rechear o texto. Um amontoado de letras que não nos desperta curiosidade.

         Quando me tornei mais velho, percebi exatamente como eram os clichês do cinema. Assisti a muitos filmes e condicionei-me ficar irritado quando percebia um exemplo da falta de criatividade. E, então, entendi que a frase que dá título a este texto tinha uma aparência misteriosamente sem forma. Não era um clichê. Imaginei que deveria ter sido escrita por algum poeta que já sabia como não era um clichê, mas ainda não sabia como era uma grande frase.

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As pessoas vivem conhecendo outras. Num ponto de ônibus, no aeroporto. Algumas são descartáveis. Outras se tornam importantes e agregam-se ao sentido que cada um dá a sua vida. Você poderia ter vivido e morrido sem nunca tê-las conhecido, mas as conheceu e suas existências passaram a contribuir-se.

            Um dia eu conheceria alguém. Poderia ter sido só mais uma pessoa descartável, mas não foi.

Esse tipo de acontecido deixa a gente intrigado. Digo, a precisão com que as coisas aconteceram me deixou intrigado. Parece ter sido premeditado por alguém. Impressionante demais para ser aleatório. Se fosse um filme, os críticos reclamariam da previsibilidade do roteiro. Mas não era um filme, era minha vida e mais parecia um Deja vu.

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Eu estava indo mal na universidade. Desolado e desmotivado. Culpei o cansaço, pois nada havia mudado em minha vida e eu estava cada vez pior. Acreditei no que era mais conveniente. Não me dei ao trabalho de buscar explicação. Já havia passado o tempo em que eu gastava folhas de papel para tentar explicar o que alguém realmente queria dizer com suas palavras.

Mas depois que ela me surgiu, passei a sentir que havia uma razão para fazer coisas das quais eu fosse me orgulhar algum dia. Fiz as pazes com meus inimigos. Aprendi a tolerar as pessoas pelas quais costumava sentir antipatia. Decidi racionalizar algumas emoções para evitar sentir o que não era certo. E adicionei emoção a alguns raciocínios. Passei a ter compaixão por todos, mesmo pelos que eram mais ricos e poderosos que eu. Eles, ainda assim, poderiam ser infelizes e eu não quis ser indiferente a isso. Esforcei-me para tentar entender a opinião dos outros e os motivos que os levaram a fazer coisas erradas. Senti prazer em ajudar quem precisou de mim e passei a usar suas expressões de agradecimento como combustível.

Se eu tivesse que explicar o que de mais importante ela fez em minha vida, seria assim que eu faria: 

“Ela dá sentido a frases que antes não tinham. Devolveu razão aos meus dias...

... Ela me faz querer ser uma pessoa melhor”

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A inspiração deste texto nunca o leu... Certamente nunca lerá.


Maio de 2010

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