segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Eu queria


Um texto curto.

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Eu queria


Se eu pudesse eu te colocaria de castigo... aqui, sentada na minha frente.

Só pra ver seu desajeito em fazer qualquer coisa com as unhas grandes. E como você passa o cabelo pra traz da orelha e, vez ou outra, olha para baixo. Pra poder observar sem pressa o padrão descontraído com que seus cabelos se acomodam sobre seus ombros e acariciam seu rosto. E as linhas perfeitamente concordadas que silhuetam seu corpo, amenas como um gesto que as desenha no ar.

Porque você é de uma beleza tão ingênua que eu não me sinto bem em largar por aí. 

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A inspiração deste texto nunca o leu... Certamente nunca lerá.


Setembro e outubro de 2011

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Boa noite

Um texto curto.



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_Boa noite.

Salpicada com sua delicadeza, num suspiro irônico, ela provoca:

_ Ainda é tarde. Não vê o sol avermelhar?

_Porque ainda me provoca, se vê que ela já está no fim?


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A inspiração deste texto nunca o leu... Certamente nunca lerá.


Setembro de 2011

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Pesadelo de setembro



Um pesadelo que tive em 14 de setembro de 2011. Acordei atordoado e angustiado. Escrevi isso no início da manhã, pouco depois de ter chegado ao trabalho.

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Pesadelo de setembro

Tive um sonho onde eu estava em uma prisão no meio de um lugar que lembrava uma ilha. E ela, que parecia estar presa comigo, tentou fugir por um encanamento subterrâneo. Infelizmente as coisas não aconteceram como o previsto. Me lembro de uma projeção onde a vi caindo de algum lugar em meio a uma cortina de água. 

Instantes depois, como se mudassem de quadro, vieram carregando-a numa maca feita de uma madeira que parecia ser velha e úmida. Ela já estava morta. Foi assustadoramente desagradável. Eu a olhava a uma distância de três ou quatro passos, com uma pena que me massacrava. Senti uma tensão muito grande, como se meu cerne estivesse sendo chacoalhado.

Mas, mesmo morta, ela mexia os braços vez ou outra, como se estivesse dormindo. Durante meu sonho eu aceitei isso como normal.

Pensei em como estariam seus pais, se estariam tão desolados quanto eu estava. Olhei para o horizonte pensando que eles pudessem chegar de alguma direção.

Lembro-me que segundos depois eu estava em outro lugar, mas ainda podia vê-la deitada de onde eu estava. Senti vontade de ir lá para passar meus dedos em seus cabelos, olhar seu rosto de perto e ver se, por alguma razão, ela decidiria por abrir os olhos.

Eu sempre tive vontade de ficar assim, perto. Tocá-la. Eu só não queria que fosse nessa circunstância.

... Ana.

Acordei às nove. Eu deveria estar no trabalho às oito. Não sei o que aconteceu entre mim e o despertador.














... Ana!

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A inspiração deste texto nunca o leu... Certamente nunca lerá.


Setembro de 2011

terça-feira, 7 de junho de 2011

O vento, a cortina e o copo


 A primeira idéia para esse texto surgiu em 2009. Ele lamenta uma situação que passei naquele ano.

Resolvi por reescrevê-lo, em partes, por que estou passando uma situação similar exatamente agora. E também porque algumas das passagens do texto antigo me desagradaram do ponto de vista da escrita.

Ele descreve, confuso e desestruturado, como a minha ansiedade patológica me consome e como sou forçado a tomar medidas incoerentes como única forma de aliviar o desconforto astronômico onde situações normalmente tensas me colocam.

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O vento, a cortina e o copo


“O vento balançava a cortina
Que balançava o copo...”

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Por vezes penso que é melhor nunca tê-la, do que conviver com o medo de perdê-la quando ela está na alçada dos meus braços.

No fim das contas, deve ser menos doloroso estragar tudo com as próprias mãos, do que ter que suportar a irrefutável culpa de tê-lo feito enquanto tentava, justamente, evitar o pior.

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Eu sei o que é o certo a se fazer.
Que as decisões certas podem me deixar orgulhoso.
Mas que algumas vezes eu vou errar de propósito.

As dúvidas, os dias nublados e as lágrimas me ensinam, mas são insuportavelmente dolorosos e, se me for permitido escolher, eu certamente os evitaria.

As pessoas têm a mesma força, mas os mesmos problemas apresentam dificuldades diferentes para pessoas diferentes. Não é certo culpar alguém por ter tomado a decisão que menos o faria sofrer.

... Eu sou tão imaturo e inseguro que me sinto como se me engasgasse na ânsia do choro a cada vez que anoitecesse, temendo que o sol sumisse de vez.

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Alguns seriam indiferentes ao copo.
Saberiam conviver com a dúvida ou com as conseqüências.
E, talvez por isso, ele nunca cairia.
Mas outras o derrubarão.

“O vento balançava a cortina
Que balançava o copo
Então, levantei-me, e o derrubei.”

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A inspiração deste texto nunca o leu... Certamente nunca lerá.


Junho de 2011

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Devushka


Um dia eu estava no Skype com uma amiga de Moscou, conversávamos sobre casamento e outras coisas. Ela não concordou com meu empenho cego nos estudos e trabalho, e tentou me convencer a abrir espaço para outras coisas na minha vida.

Ela conseguiu.

Atualmente isso poderia ser interpretado como machismo. Mas não foi assim que suas palavras me atingiram. Eu li o que surgia no display do Skype e me apertou o coração ao ver a simplicidade com que ela encarava o casamento.

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(…) You need someone who will support you in your career. You are a man, it's your duty to work, to get money for family, to be smart and wise. And woman just must support and give you comfort and love.

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Fevereiro de 2011

Epígrafe


Veio-me à cabeça depois de ler o livro 3096 dias, Natascha Kampusch.


Mas, de certa maneira, eu já estava engasgado com isso desde que Liana Friedenbach foi assassinada com 16 facadas no dia do meu aniversário de 16 anos.

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Epígrafe

Eu não acredito em nenhuma força ou lei que manipule o presente para privilegiar o futuro. Ou que preze pela justiça acima de tudo, a não ser que por suas próprias regras. Hoje eu não faço questão de que o céu exista, mas me sentiria aliviado se soubesse que o inferno, mas tal como narram os ignorantes, seria o destino certo daqueles que, alguma vez, violentaram uma mulher.

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Maio de 2011